Autor Francisco Matthews
Fecha 13 de julho de 2020
1. Minha primeira recomendação quanto ao risco cambial é que procurem repassá-lo aos clientes e/ou fornecedores, buscando que as transações sejam realizadas na moeda funcional da sua empresa. Isso nem sempre é possível; então, se não for, administrem o risco cambial por meio do uso de derivativos financeiros.
2. Ter uma Política de Gestão de Risco Cambial (PGRC), documentada e aprovada pela diretoria antes de começar a usar derivativos para gerenciar o risco cambial é uma boa prática que recomendo, pois alinha a gestão financeira com a diretoria.
3. Definam claramente que tipo de exposição vai ser coberta, bem como o objetivo perseguido pela estratégia de hedging.
4. Treinem a equipe de finanças em derivativos, com ênfase especial em poder avaliar se determinado produto é adequado para o objetivo da empresa, para o qual devem entender o perfil de pagamento do derivativo, como construir a precificação e, muito importante, é entender como a contabilidade afeta as demonstrações financeiras (Hedge Acconting ou Fair Value).
5. Forneçam à equipe de finanças as ferramentas necessárias para negociar em igualdade de condições com os bancos, tendo dados de mercado e ferramentas de avaliação de derivativos. Isso permite não pagar sobretaxas no mercado à vista e a termo, representando economias que geralmente não são visíveis. Mas acreditem, elas existem. Para um operador de mesa de operações é uma grande vantagem ter alguém do outro lado da linha que não sabe onde estão os preços em tempo real e nem entende muito sobre derivativos.
6. Sejam proativos. Em geral, as empresas lidam com a gestão do risco cambial depois de terem sofrido uma perda por esse conceito e, geralmente, já é tarde. No entanto, ela serve para não cometer o mesmo erro novamente.
7. Tenham visibilidade da exposição cambial em tempo real. Recomendo que busquem isso, pois ter informações online sobre sua exposição pode evitar muitos problemas. Fazer hedge da exposição de algumas semanas atrás com as taxas de câmbio de hoje pode levar a problemas maiores. A tecnologia está disponível.
8. As previsões sobre a evolução futura das moedas devem representar uma pequena parte das variáveis de decisão a cobrir, dada a imprevisibilidade do futuro. O driver mais importante deve ser o quanto a margem do negócio tolera a volatilidade da moeda à qual a empresa está exposta.
9. Definam como vão medir a efetividade da estratégia de hedging. É importante entender que devemos olhar para o «filme inteiro»; isto é, como é que o derivativo compensou o item coberto. É muito comum ouvir dizer que “perdemos dinheiro fazendo contrato a termo”. Quem diz isso não está vendo o filme todo. Isto é o que eu chamo de “Hedgespeculator”, aquele que entra no mercado procurando um hedge, mas avalia o resultado como especulador.
10. A gestão do risco cambial é um processo contínuo. Ela começa com a definição de uma política documentada aprovada pela diretoria, mas é um refinamento constante de processos e tecnologia. Além disso, considerem o aprendizado da diretoria como parte do processo para que ela tenha uma compreensão completa da estratégia.
11. Acredito que existem muitos pontos críticos no processo de gestão de risco cambial onde a tecnologia pode trazer muito valor.
12. Procurem a máxima coordenação entre a gestão do risco cambial, a área de compras e a área comercial, não só para obtenção de informações das exposições em tempo real, mas também para que a gestão do risco cambial contribua para aumentar as capacidades comerciais e competitivas da empresa.
13. “Sempre fizemos assim”. Tenho ouvido isso de empresas que não fazem hedge contra seu risco cambial. Acredito que após a Covid 19 devemos estar preparados para continuar gerenciando eventos de baixa probabilidade e alto impacto, que se refletem na volatilidade das moedas. Ou seja, as coisas vão mudar constantemente, por isso as receitas do passado devem ser adaptadas à nova realidade.
14. Expliquem os resultados da gestão de risco cambial com clareza. Quanto mais confiantes se sentirem explicando os resultados ao chefe, mais refinado terão o processo; quanto mais dúvidas houver na explicação, mais refinamento requer o processo. O efeito dos “forward points”, das mudanças nos descasamentos dentro do mês e outros fatores, pode não ter sido como o planejado. É importante entender que o risco cambial não é 100% eliminado. Uma boa gestão só consegue mitigá-lo de forma significativa.
15. Avaliem o risco da contraparte. É importante ter claro que não dá na mesma quem é a contraparte com quem vão fechar o derivativo, uma vez que existe um risco de crédito implícito para ambas as partes por conta da compensação do derivativo ou de sua entrega física. Uma boa prática é negociar com contrapartes que tenham classificação de crédito.
16. Gerenciar o risco cambial usando apenas o Excel como ferramenta não é recomendável, pois em geral quem entende muito bem o Excel é a pessoa que o confeccionou e por isso ele entrega informações apenas para essa pessoa e não necessariamente para o resto da organização. Por outro lado, está sujeito a erro humano. Acredito que a automação gradativa é o desafio para as equipes financeiras.
17. Na minha experiência, os exportadores concentram o hedging nos fluxos esperados (diferença entre receitas e despesas em uma moeda diferente da moeda funcional) e os importadores cobrem o balanço patrimonial (diferença entre ativos e passivos em uma moeda diferente da funcional). No geral, as empresas cobrem o risco cambial de transação por períodos menores a 1 ano e usam derivativos simples, como o contrato a termo. O hedge de longo prazo refere-se ao hedge de passivos de longo prazo em moeda estrangeira, para os quais são utilizados derivativos mais complexos, como o swap cambial.
18. A moeda funcional é aquela que regula a estratégia de hedge; ou seja, qualquer moeda que não seja a moeda funcional representa um risco cambial. Algumas empresas me falam que planejam mudar a moeda funcional para dólares como uma forma de acabar com o problema do risco cambial. Não é bem assim, a mudança de moeda funcional só transfere o risco para outras moedas, não o elimina.
19. A forma como os derivativos são contabilizados não deve definir a estratégia de hedging; este é um aspecto importante, mas não é o aspecto central.
20. Desenvolvam KPIs para medir a efetividade da estratégia definida, a fim de detectar variações que nos afastem do objetivo desejado.